Título: EPICURO: Sua Teologia, posição na história e uma crítica à sua Doutrina.
Autor: FABIO GOULART
PORTO ALEGRE, 2006.
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ABSTRACT
It is a short introductory text to the philosophy of the ancient Greek philosopher Epicurus. The text is limited to the study of his theology, religion, ethics, and is followed by a critique in end.
Keywords: Epicurus, Theology, Doctrine.
RESUMO
Trata-se de um breve texto introdutório à filosofia do filósofo da Grécia antiga Epicuro. O texto se limita ao estudo de sua teologia, religião, ética e é seguido por uma crítica no final.
Palavras Chaves: Epicuro, Teologia, Doutrina.
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1. A Teologia de Epicuro
1.1 Obras e fragmentos que nos restaram.
Segundo Diógenes de Laércio, dentre as mais de trezentas obras de Epicuro, consta uma sobre os deuses (Perí Theoun), porém esta obra não chegou até nosso tempo. O maior número de referências encontramos na carta a Meneceu; também no muro de Enoanda encontram-se frases epicuristas de cunho teológico. Valiosos depoimentos relativos à teologia epicuréia devemo-los a Lucrécio e a Cicero. Um excelente estudo sobre a teologia foi escrito por Festugiére em Épicure es sés dieux sieux.
1.2 A Religião
Epicurismo não significa ateísmo em sctrcto sensu. Epicuro era um antiteísta, pois fazia oposição à religião popular (os antigos deuses gregos) e a religião astral (são os signos do zodíaco que muita gente crê até hoje). Ao contrário das religiões da época, as divindades eram para Epicuro criaturas sem inveja, sem maldade, sem desejo, sem vinganças, etc. Ele também não acreditava em destino ou qualquer tipo de vontade divina; para este filósofo os deuses não se intrometem no mundo físico. Por fim, em seus textos às vezes ele fala em divindades (theoí) e em outras em Deus no singular (Theós), assim sendo não podemos afirmar que ele era monoteísta ou politeísta. Sua visão é muito mais próxima ao que hoje chamamos de Deísmo.
1.3 Como eram os deuses para Epicuro.
“Deus é um ser vivo, imortal, feliz... do mesmo modo que o conceito universal de ser divino acha-se gravado em nós...” As divindades vivem na mais completa tranquilidade, delas provem micros simulacros (eídola) que os tornam conhecidos como são. Os deuses do povo , por outo lado, eram ficções eivadas de imagens distorcidas, errôneas, motivo por que são tidas como vingadoras.
Se dos deuses de Epicuro desprende-se átomos finíssimos, e pelos poros penetram no espírito humano, conclui-se que também eles possuem corpo, composto de matéria sutilíssima. São deuses icônicos de caráter “sui generis”. Epicuro acreditava nesses deuses por três motivos: 1° Na infância em Samos, se encheu das mais diversas informações religiosas; 2° Inteligente percebia o conceito universal no tocante à aceitação das divindades; 3° Achava logicamente necessários os deuses para fundamentar uma religião que ao mesmo tempo representasse reverencia e culto à perfeição.
1.4 Seu Argumento ontológico
Cícero referindo-se a Epicuro, cujos escritos bem conhecia, confirma em “De beneficiciis, IV, 193,” que o filho de Samos admitia a existência dos deuses como logicamente necessárias, porque é mister a existência de alguma natureza superior a qual nada pode superar. São Os deuses uma exigência do ideal da perfeição humana. ( eudamonía )
1.5 A Residência dos deuses e a imortalidade
Existem mundos infinitos segundo a física de Epicuro, por haver idem um número infinito de átomos. Os deuses viveriam nos espaços que separam entre si os mundos. Tais espaços denominam-se “intermundos” (metakosmía). Os deuses teriam uma forma semelhante a humana, só que perfeita e plenamente feliz. Mesmo feitos de átomos, os deuses não estão sujeitos a mortalidade, pois a “eídola” emite sem cessar átomos que são substituídos por outros eternamente. “Por conseguinte, não são afetados pela dissolução dos mundos que ocorre continuamente ao redor deles.” Deus mão se preocupa com o mundo, mas fica retirado isoladamente, no gozo de seu bem-estar. A felicidade divina deve ser almejada por todos homens, pois é plena...assim pensava Epicuro.
2. Epicuro na História
O epicurismo durou pouco mais de meio milênio, já sua presença marcante durou até o séc III depois de Cristo. A concepção antropológica relativamente à “hedoné” e a busca a ataraxia se mostraram inapagáveis. Tanto é que em nossos dias o mestre do jardim ainda é lembrado e a busca da felicidade por meio de seus métodos ainda é praticada. A doutrina epicuréia, não acabou no séc. III depois de cristo, ela apenas se adaptou, pois pouco antes no séc. I d.C. encontrou em meio aos romanos simpatizantes, um abrigo. Titus Lucretius Carus (95-55 a.C.) este com sua obra “De rerum natura”, escrita em hexâmetros difundiu na sua época, e depois em todo ocidente , a doutrina de Epicuro. O poema de Lucrécio é considerado o maior poema filosófico de toda história da humanidade. Cícero, embora inclinado à Nova Academia, isto é, ao probalismo, chegou a conhecer quando jovem as ideias de Epicuro, através de Fedro. Adulto, combateu Epicuro, mas continuou a apreciá-lo como homem. A obra de Lucrécio exerceu influxo sobre Horácio o que o levou a sua célebre frase “carpe diem”. O autor de “Odes Virgílio” também por muito tempo seguiu o epicurismo. Também Sêneca em seu epistolário e em suas máximas, embora professasse o estoicismo, demonstrava profunda admiração pelos ensinamentos de virtude e de moralidade de Epicuro.
2.1 Estoicismo e Epicurismo
Ambos esforçam-se por proporcionar uma filosofia de vida, seus ideais no campo da ética, realmente não estavam muito distantes um do outro. Os estoicos colimavam como objetivo a autossuficiência a qual devia ser atingida por uma vida consentânea com a natureza, os epicureus ,miravam a tranquilidade, a ataraxia. A diferença encontramos na base das doutrinas; os estoicos acreditavam numa alma universal regulando todas as coisas; eram panteístas e diziam que uma centelha dessa alma, na vida de cada individuo, constituía ao mesmo tempo toda inspiração e sabedoria que o home pode ter.
Como já foi dito, os epicuristas pensavam diferente. Tinham uma visão totalmente materialista do universo. Os deuses existem, mas isolados nos intermundos, sem contato e sem relação com o mundo físico para não turbarem a sua bem-aventurança. A alma é composta de átomos. Nos séculos II e III d.C. temos figuras que mostram sua simpatia pelo filósofo do jardim. Diógnes de Enoanda e Diógenes Laércio o qual nas suas biografias dos filósofos dedica o livro décimo inteiro de sua obra a Epicuro.
O epicurismo sofre com as lutas com os estoicos e com o crescimento do cristianismo. Timócrates um discípulo dissidente espalhou graves calúnias sobre a doutrina do mestre do jardim contribuindo para fortalecer os antiepicureus e o gradativo desaparecimento dos seguidores por volta do séc. IV d.C. Nos tempos de Santo Agostinho (354-430 d.C.) os epicuristas quando citados, os são anedoticamente, somente na Renascença Epicuro começa a ser reabilitado, diversos personagens contribuíram pra isso. Poggio valorizou os textos carolíngios multiplicando-os com várias cópias na metade so século quinze. Posteriormente temos diacronicamente como admiradores críticos de Epicuro: Bayle. La Mettrie, Vico, Voltaire, Kant, Marx, Nietzsche.
3. Crítica a Epicuro
Para Epicuro filosofia e vida são inseparáveis. Ele centra a sua atenção no ser humano como personalidade que porta um nome. Olha-o na sua singularidade, na sua experiência existencial. Empenha-se em construir uma singularidade, na sua amizade, na troca de experiência existencial. Empenha-se em construir uma filosofia de vida baseada na amizade, na troca de experiências, em reflexões, em celebrações ritualísticas de caráter religioso, na ataraxia, em máximas que servem de leis e motivações para a vida cotidiana. Embora discípulo de Demócrito, torna-se autônomo em sua maneira de conceber o mundo. Seu modo de viver e pensar expressa a busca da felicidade em seu mais alto grau. Em seu jardim todos, sem exclusão de mulheres e escravos ( algo incomum na época), podiam participar. Sua filosofia era a filosofia da liberdade, ou seja, como podemos estudar em tetrafármaco, buscava libertar os homens dos grilhões de superstição, do destino e dos deuses. Sua doutrina arraigada na realidade, na vida cotidiana, nas relações inter-humanas, na busca da felicidade neste mundo dá-nos uma visão de um humanismo imamentista, exclui qualquer transcendência e se mostra niilista.
Em sua doutrina podemos verificar aspectos negativos que apresentam fortes erros em sua gnosiologia e física. Isso porque sua obra não apresentava argumentos convincentes. Em toda sua doutrina vemos em sua ética seu ponto de vista mais forte, a principal crítica feita com relação a elas se dá sob o aspecto do não envolvimento epicureu na vida da polis, nas discussões políticas da cidade. Quanto ao problema da liberdade e da responsabilidade o qual não deu solução e sua maior falha para muitos foi ter feito do Bem a identificação com a emancipação de qualquer obrigação. Quanto a religião e teologia. Epicuro em seu deísmo representou para a sociedade de sua época o que foi o iluminismo na modernidade.
REFERÊNCIAS
ULLMAN, R. Aloysio. Epicuro: O Filósofo da Alegria. EDPUCRS. Porto Alegre 2006.
Toda doutrina oferece espaço para a crítica (contra e/ou a favor) a partir de diferentes visões de mundo. Acredito que em toda doutrina filosófica existe algo, conteúdos com os quais alguém se identifica, que pode inspirar outros raciocínios, outras conjecturas. No caso do Epicurismo, faz-me pensar, diferentemente das concepções religiosas atuais, que Deus não "estaria preocupado" com as ações humanas, enquanto boas ou más nem somente com o nosso mundo em particular. Estaria “ocupado”, ou melhor, integrado ao pleno funcionamento do universo como um todo.
ResponderExcluirQuando penso em "o que é Deus" e verifico algumas versões conceituais, filosóficas ou religiosas, a minha perplexidade continua e alimenta as minhas dúvidas. Acredito em algo superior ao Ser humano, que não consigo definir nem interpretar a partir de conjecturas filosóficas ou religiosas, que posso chamar de Deus, energia, fluido universal, causa primeira de tudo que existe... O ponto crucial de meu raciocínio é aquele que me impede de compreender o que é Deus no contexto da religião. Penso que a ciência poderia encontrar argumentos suficientes, ainda que provisórios, para definir o que é Deus. Dessa perspectiva, acredito ainda que a Filosofia, como campo de reflexões sobre a Ciência, daria sua contribuição.
Atualmente a maioria da humanidade ainda vê Deus como um ser à imagem e semelhança dos homens, criando um conceito distorcido de Deus e da Criação, ao afirmar que "Deus criou o homem à sua imagem e semelhança". Dessa crença decorrem atribuições de qualidades e virtudes puramente humanas a Deus, como: a violência, a vingança, a luta pelo poder, o amor etc. Para mim esta ideia é inconcebível e vejo que tem sido a opinião da maioria. Estas concepções sobre Deus são tão próximas de caricaturas humanas da divindade, quanto as do mundo antigo, a exemplo do Epicurismo. A ataraxia, com outras roupagens, ainda é uma promessa das religiões, apesar do avanço científico e da visão de universo imensurável.