Como já deixei evidente neste trabalho, o ensino tradicional não tem atrativos e a
maioria dos alunos acaba por ficar desinteressado. Lipman diz que é difícil educar
bem mesmo os alunos interessados quando não se tem as condições favoráveis.
Para termos estas condições favoráveis, necessitamos de um ensino competente,
um currículo adequado e a formação de uma Comunidade de Investigação. Estas
condições não são totalmente independentes entre si:
“Os professores não podem estar preparados em salas de aulas que não
sejam Comunidades de Investigação. Nem tampouco é viável que o objetivo
de tais professores seja ser capaz de trabalhar completamente sem materiais
do currículo ou sem comunidades deliberativas.” (LIPMAN, 1995, p. 307)
Por tudo aquilo que já foi dito neste trabalho e pela forma com que me
expressei poder-se-ia argumentar que estou tentando dizer que as crianças e os
adolescentes são seres desinteressados e pouco envolvidos com os temas
abordados na Escola e, por causa disso, os professores devem ser verdadeiros
malabaristas, tentado evitar que os alunos se desinteressem frente à estrutura daeducação tradicional. Meu argumento é a antítese desta afirmação. Por tudo que já
foi dito até aqui julgo que as crianças e os adolescentes são naturalmente críticos,
curiosos e investigadores. Basicamente eles são “filósofos natos” 19. Porém, tantocrianças quanto adolescentes são frágeis e podem se desestimular rapidamente
frente a circunstancias adversas ou quando inseridas em um universo
demasiadamente estruturado. Devido a isso, Lipman duvida da afirmação que basta
criar um ambiente livre e bom que as crianças e os adolescentes se envolverão com
o pensar de ordem superior. (LIPMAN, 1995, p. 317)
Uma vez que duvidamos desta afirmação da pedagogia não diretiva,20 énecessário estabelecermos modelos que provoquem o pensar de ordem superior
nos alunos. Dentre os vários tipos de modelo que podem existir, Lipman cita os
seguintes:
1° Outros alunos como modelo: Crianças costumam usar como modelo o
comportamento de outras crianças. Cada atitude pode ser encarada como exemplar,
assim sendo, se uma criança fica em silêncio, as outras também podem ficar, se
uma criança questiona, as outras podem também questionar, etc. “A pratica de
solicitarem razões entre si ou oferecer contra exemplos desenvolve-se quando a
iniciativa de um aluno serve como razão21 para que outros alunos se comportem demaneira semelhante”. (LIPMAN, 1995, p. 317)
2° O texto como modelo: O texto trazido em sala de aula pode retratar, ou até
desvelar atitudes que revelem o pensar de ordem superior. Ele também pode
explicitar ações lógicas ou conceituais de personagens que tomam determinadas
atitudes que podem ser encaradas como modelos para os alunos.22
3° O professor como modelo: De fato o professor é um modelo em sala de
aula, mas não deve ser um modelo tirânico das respostas certas e erradas ou um
modelo de pensador livre e descomprometido. Para Lipman “o professor fornece um
modelo de alguém que transcendeu sem rejeitar as respostas “certo e errado”, no
sentido de estar mais preocupado com o processo da investigação em si, do que
com a resposta que se pode chegar”. 23(LIPMAN, 1995, p. 317)
Fica evidente que se há o desejo que os alunos desenvolvam o pensar critico
e pensem com as próprias cabeças, não se pode priva-los de terem modelos.
Poderia se argumentar que para os alunos terem ideias realmente próprias seria
necessário que não tivessem contato com nada que lhe possam servir como
modelo. Além de esta tese parecer estranha devido ao fato que naturalmente as
crianças utilizam os colegas, os professores ou as personagens de um texto com
modelo, Lipman se mostra extremamente contrário a ela. Para ele os alunos devem
estar rodeados pela maior quantidade e diversidade de modelos que a Comunidade
de Investigação conseguir trazer. Estes exemplos são importantes a partir do
momento que os alunos percebem a multiplicidade de perspectivas que um tema
pode possuir e começam a verificar as diferenças e semelhanças, bem como as
atitudes e consequências que os diversos modelos podem possuir. Com isso
exercitam a capacidade de julgamento para decidir por um modelo em detrimento de
outro e:
“O que percebemos então é que os próprios alunos abrem mão do seu
egocentrismo e se entregam ao pensar de ordem superior, como atletas que
perdem a preocupação com seus papeis específicos em um jogo e se
entregam inteiramente ao próprio jogo” (LIPMAN, 1995, P. 318)
Este texto faz parte do trabalho chamado “Crítica a Escola” escrito por mim, Fabio Goulart. Para fazer o Download do trabalho Completo CLIQUE AQUI. Todos os dias será postado um novo texto deste trabalho aqui no site! Boa Leitura!
18 Quero com isso me referir aos métodos não questionadores, onde o ouvinte não é instigado à
contra argumentar e expressar suas próprias teorias.
19 Esta frase é basicamente um ditado popular, não se trata de uma afirmativa.
20 “basta criar um ambiente livre e bom que as crianças e os adolescentes se envolverão com o
pensar de ordem superior”
21 Julgo que estas razões podem ser encaradas tanto como razões positivas, quanto como razões
negativas. Isso porque tanto o exemplo de uma atitude de um colega pode ser positiva gerando
atitudes semelhantes no restante da turma, quanto pode ser negativa gerando a crítica imediata dos
colegas ou a simples não aprovação da mesma.
22 Neste sentido me lembro da primeira vez que li o livro “O Mundo de Sofia” de Gaarder,
Jostein.(GAARDER, 2009) À medida que a personagem ia se descobrindo e descobrindo a filosofia,
eu , no auge da minha adolescência, também ia tentando me descobrir e descobrir o mundo da
filosofia. Considero este um bom livro para introduzir o pensamento filosófico e alguma noção da
história da filosofia em pré-adolescentes e adolescentes, afinal ele é uma narrativa bastante
questionadora e pouco conclusiva.
23 Lembro-me que os alunos naturalmente respeitam mais professores que são exemplos no sentido
exposto por Lipman. O que considero curioso é o fato que durante minha vivência escolar tive vários
professores que aplicavam metodologias completamente diferentes e conseguiam arrancar a atenção
e o exemplo da turma. Apenas para citar, tive o rigoroso e diretivo professor Roberto (vulgo: Lobão)
das aulas de ciências no Ensino Fundamental; A bela, sedutora e não diretiva professora Jeani das
aulas de matemáticas do início do Ensino Médio; e a descontraída e divertida professora “mediadora”
Luciene das aulas de português do final do Ensino Médio.
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