que utilizarão este currículo. Teoricamente ele é elaborado com conteúdos que
estão sempre um nível acima em relação ao nível que os alunos se encontram.
Estes supostos níveis são estabelecidos através da reunião de dados e informações
empiricamente verificáveis acerca do conteúdo aplicado em sala de aula. Lipman
considera que as associações que são feitas entre crianças de um determinado ano
e as mesmas crianças no ano seguinte, são puramente causais e não lógicas.
Devido a isso, o currículo que for concebido utilizando-se destes pressupostos não
demonstrará nenhum desenvolvimento racional de ano pra ano. Estará apenas
despejando novos conteúdos e aumentando o vocábulo dos alunos. Mesmo se os
alunos demonstrarem algum crescimento lógico entre um ano e outro, este
crescimento será atribuído ao desenvolvimento psicológico normal em crianças
desta idade:
“Fabricantes de currículos, ao que tudo indica, habitam um universo onde
existem estágios de maturação e não uma elaboração da racionalidade.
Assim sendo, não há necessidade de se colocar em risco a boa ordem das
coisas através de uma introdução supérflua de operações lógicas
sequenciais.”24(LIPMAN, 1995, p. 321-322) Para a elaboração de um currículo racional, primeiramente é necessário crer
que os alunos reagem de acordo com a maneira de são tratados. Assim sendo, se
forem tratados como seres desinteressados e acríticos, tenderão a ser
desinteressados e acríticos, “trate-os como idiotas, e nos darão muitas provas de
que estamos certos”. (LIPMAN, 1995, p. 322)
Mais do que apenas crer que se forem tratados como seres inteligentes e
racionais os alunos tentarão, com toda certeza, ser seres inteligentes e racionais, os
responsáveis pela elaboração do currículo escolar devêm tornar tais currículos
lógicos e racionais, abandonado os currículos tradicionais que preveem uma
evolução mecânica baseada em níveis observacionais e no despejo e absorção dos
conteúdos.
Depois disso é necessário que se de busque as habilidades que antecedem
as habilidades cognitivas, para que se estimulem primeiramente práticas primitivas
que irão permitir que os alunos apliquem habilidades superiores em um próximo
nível:
“Se[...] queremos que os alunos descubram as semelhanças entre coisas que
são muito diferentes e dessemelhanças entre coisas que são muito
parecidas[...] primeiro devemos fortalecer sua capacidade para discernir
semelhanças e diferenças em geral.[...] envolvê-los na realização de
comparações.[...] consequentemente[...] irão discernir aspectos entre coisas
iguais e aspectos entre coisas que não são iguais, e aprenderão também a
utilizar os critérios fundamentais de identidade e diferença.” (LIPMAN, 1995,p. 322)
Ao contrário do currículo tradicional que é afirmativo e positivo, o currículo
racional deverá enfatizar o negativo. Ele deverá primar pelas diferenciações, pelos
questionamentos, pela coragem de explorar novas alternativas e pelo ímpeto de
discordar. Só assim atingirá o objetivo de capacitar os alunos a apresentarem um
pensar independente.25
Por fim, é indispensável que o currículo seja elaborado de maneira racional o
mais cedo possível. Lipman afirma que o ideal é que isso seja feito já na pré-escola,
pois nesta fase as crianças estão aprendendo as habilidades sociais que a
Comunidade de Investigação pressupõe, (LIPMAN, 1995, p. 323) só assim os alunos
poderão passar rapidamente para o pensar de ordem superior e lá permanecer por
to sua vida escolar.
Este texto faz parte do trabalho chamado “Crítica a Escola” escrito por mim, Fabio Goulart. Para fazer o Download do trabalho Completo CLIQUE AQUI. Todos os dias será postado um novo texto deste trabalho aqui no site! Boa Leitura!
24 É evidente o tom de ironia do autor na passagem “[...] não há necessidade de se colocar em risco a
boa ordem das coisas através de uma introdução supérflua de operações lógicas sequenciais”. Com
esta passagem ele tenta mostrar a que ponto pode chegar a não racionalidade na elaboração do
currículo escolar. Também podemos observar que ele utiliza a expressão “Fabricantes de currículos”,
dado ainda mais a ideia que os currículos tradicionais são mecânicos e acrítico.
25 Em nosso país é normal associarmos a ideia de ‘reforma curricular’ com a ideia de ‘acrescentar e
retirar disciplinas da grade curricular’. Julgo que se uma escola se empenhar na busca de tornar seu
currículo racional, certamente irá obter resultados muito mais interessantes do que se ficar esperando
por projetos de lei “milagrosos” que incluam disciplinas “mágicas”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.