Para que seja possível que exista conhecimento, primeiramente é necessária
a habilidade de organizar as informações que recebemos em unidades ou grupos
significativos. Para Lipman, estes grupos conceituais são redes de relações, vistoque cada relação é uma unidade de significado,36 estes grupos são verdadeiras teiasde significados. Dentro de seu projeto, a sentença, o conceito e o esquema são os
tipos mais básicos de agrupamentos de significados.
Sentenças: São contextos básicos de significados. Formados pela relação de
duas ou mais palavras, são unidades ainda menores do que parágrafos ou
argumentos. Claro que palavras soltas são unidades ainda menores e mais simples,
porém as palavras soltas só ganham sentido quando compreendidas dentro de um
contexto37 e o que dá este contexto é a relação com outras palavras soltas. O
raciocínio humano lida basicamente com as relações entre sentenças e intra
sentença, ou seja, aquelas que ocorrem entre sentenças diferentes e aquelas que
ocorrem dentro de uma mesma sentença. Dentre as formas que elas podem
apresentar38 para o raciocínio lógico Lipman destaca as sentenças afirmativas e
declarações de interesse como as mais importantes. Isso devido ao fato de
representarem uma declaração de julgamento por mais básica que possa ser,
(LIPMAN, 1995, p. 67-68) por exemplo: Quando o aluno Mario afirma que todos os
cachorros de sua rua são pretos, ele está dizendo que com base em suas
experiências observacionais e no seu raciocínio lógico, julga que todos os cachorros
de sua rua são pretos.
Conceitos: Quando agrupamos coisas de acordo com suas semelhanças
temos um conceito, por exemplo: quando dizemos que são cadeiras todos os
objetos feitos para sentar que possuem encosto para as costas e podem ser
facilmente deslocados de posição, independente de serem grandes ou pequenos,
feitos de aço ou de madeira, terem ou não rodinhas, etc.; estamos atribuindo o
conceito de cadeira a todos os objetos que possuem estas características. Conceitos
são veículos do pensamento, entidades através das quais o pensamento se
realiza.(HARRÉ, 1995) A análise de conceitos serve para esclarecer e retirar dúvidas
e ambiguidades que os alunos possam ter referente a conteúdos, objetos e fatos.
Descrição e narrativa: São mais do que simplesmente maneiras de organizar
informações, são maneiras de organizar e expressar experiências, ou seja, além
servirem para organizar os conteúdos das nossas experiências, servem também
para nos ajudar a expressá-las. (LIPMAN, 1995, p. 71)
Esquemas: Muitas vezes a formação e a análise de conceitos pode ser um
trabalho muito duro e cansativo. Eu mesmo enquanto aluno me vi várias vezes
desinteressado em investigar e buscar compreender conceitos de filósofos mais
obscuros frente à páginas e mais páginas de textos densos e mal traduzidos para a
língua portuguesa. Por isso mesmo criamos sistemas de organização que fornecem
energia intelectual ao invés de apenas sugá-la. Um bom exemplo deste tipo de
esquema é o uso da narrativa. Ao contrario da descritividade, que muitas vezes não
passa de um apanhado de informações em sequência, a narrativa conta uma
história que se desdobra à medida que o leitor avança na leitura ou na investigação.
A narrativa é um esquema dinâmico que apresenta uma relação orgânica entre as
partes e o todo, abrangendo características afetivas e cognitivas que mantêm o
interesse e atenção do leitor durante o desdobrar dos conceitos.39
Este texto faz parte do trabalho chamado “Crítica a Escola” escrito por mim, Fabio Goulart. Para fazer o Download do trabalho Completo CLIQUE AQUI. Todos os dias será postado um novo texto deste trabalho aqui no site! Boa Leitura!
36 Para Lipman, significado pode ser entendido como associações ou relações.
37 Palavras soltas possuem sentido sozinhas, mas este sentido é puramente semântico ou referencial
a alguma coisa do mundo ou do imaginário. Como diria Wittgenstein, palavras só ganham sentido
dentro de um jogo de linguagem.
38 Perguntas, exclamações, ordens, afirmações, etc.
39 Evidente que fiz abundantemente neste trabalho o uso da narrativa, principalmente no primeiro
capítulo. Isso porque julgo, tal como apresentado no capítulo “2.6 Professores, Textos e Colegas:
Exemplos para a origem da Investigação”, que uma das melhores formas de aproximar os textos à
realidade dos alunos é através da narrativa, apresentando os conteúdos em forma de histórias e não
na forma de verdades formais. Durante meu estágio de regência, na Escola Estadual de Ensino
Médio Santa Rosa na periferia de Porto Alegre - RS, tive a experiência de transformar as turmas em
comunidade de investigação e de transformar os conceitos introdutórios à filosofia em narrativas.
Obtive resultados expressivos, interessantes e surpreendentes tanto para mim, quanto para os outros
professores e alunos.
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