quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

4. A COMUNIDADE DE INVESTIGAÇÃO E A SOCIEDADE POLÍTICA (4.1 MEIOS E FINS)


Foi dito anteriormente que toda investigação necessita de diversos fatores

relacionados à sociedade, por isso se pode dizer que toda investigação é social. Por outro lado, uma comunidade dificilmente possui suas bases ligadas à investigação.



Isto remete à seguinte pergunta: A que fins políticos pode servir a Comunidade de Investigação? Lipman dedica parte de sua obra para abordar esta questão e é justamente à análise desta parte que este capítulo se dedica.



4.1 MEIOS E FINS



Numa sequência de meios e fins, devemos ter em mente que cada meio pode
representar um fim de um meio anterior e que cada fim pode ser o meio de um fim posterior. Devido a isso, questões aparentemente simples sobre a finalidade de algo, tal como a finalidade da educação reflexiva, podem tomar grandes proporções.



Se for invocada uma relação de meios e fins entre a educação reflexiva e a
democracia, a educação se transformará em educação com investigação e
educação para investigação, o produto social desta mudança será a democracia com investigação e não mais a velha democracia que conhecemos. (LIPMAN, 1995, p. 335) Julgo que somente com uma democracia investigativa será possível adentrarmos a fundo na origem da desigualdade e conseguiremos resolver grande parte dos problemas estruturais causados pelo modelo de sociedade capitalista predominante em todo mundo hoje. O curioso é que para isso não seria necessário nenhum tipo de revolução radical, protesto sangrento, ou verbas estratosféricas.



Teoricamente, basta que a Escola prepare alunos para viverem como membros
questionadores, que a sociedade começará a se questionar, então a educação se converterá em educação enquanto investigação e para investigação, e assim por diante até termos uma sociedade democrática investigativa. Para isso, o primeiro passo proposto para Lipman é transformar cada sala de aula em uma Comunidade de Investigação. (LIPMAN, 1995, p. 356)



Como já foi dito anteriormente, a Escola está posicionada entre o Estado e
Família enquanto instituições que carregam seus interesses públicos e privados. Como todo cidadão de uma sociedade democrática passa pela Escola, ela cumpre o papel de mediadora, preparando a criança que vem do autoritarismo da Família para a democracia do Estado. O modelo adotado pela Escola acaba por se tornar uma espécie de espelho em menores proporções do modelo que a sociedade a qual está inserida irá adotar. Por isso, pra Lipman qualquer mudança social que buscamos deve começar na Escola. Dentro deste raciocínio a transformação da sala de aula em Comunidade de Investigação implicará na transformação da democracia em uma democracia investigativa.42(LIPMAN, 1995, p. 357)



Quando o sistema socialista de Marx propôs uma sociedade comunista, não
deu a devida importância ao papel das crianças neste processo. A dependência que elas possuem para os adultos não pode ser eliminada tal como outras dependências como as de classes e a servidão. (MARX, 2001) O fato é que as crianças não dispõem de todas as armas cognitivas dos adultos, por isso mesmo é necessária atenção especial pra com elas. Elas não podem se utilizar das ferramentas intelectuais de sua classe opressora (os adultos) e não precisam de nenhuma revolução para acabar com seus “opressores”, pois naturalmente se tornarão adultos no futuro.



Poucas são as críticas à Escola e ao sistema educacional que pedem pelo
fortalecimento do raciocínio e do julgamento nos currículos escolares, talvez devido ao fato de ainda existirem muitas dúvidas referente a estes dois conceitos.



Geralmente se critica a qualidade ou a quantidade dos conteúdos abordados, ou se pede pela inclusão ou retirada de uma ou outra disciplina do currículo obrigatório. É justamente ai que reside o equívoco. Como deixei evidenciado em várias partes deste trabalho, devemos elaborar meios que permitam a melhora contínua do desenvolvimento do raciocínio e da capacidade de julgamento dos alunos. Neste sentido a proposta da Comunidade de Investigação se apresenta como uma excelente proposta.




 
Este texto faz parte do trabalho chamado “Crítica a Escola” escrito por mim, Fabio Goulart. Para fazer o Download do trabalho Completo CLIQUE AQUI. Todos os dias será postado um novo texto deste trabalho aqui no site! Boa Leitura!



40 Lipman alerta que não devemos supor que a melhora do raciocínio e do julgamento das crianças vão implicar na melhora de suas ações. Esta suposição deve ficar contida ao âmbito da probabilidade, por maior que ela seja.



41 Para decidirmos o que é importante considerarmos como relevante para um julgamento,

necessitamos realizar um julgamento prévio sobre estas questões. Assim sendo temos um

julgamento sobre o que precisa ser julgado na hora em que se julga algo. O que nos remete a pensar uma espécie de metafísica do julgamento que vai muito além da prática do julgar.



42 O processo de transformação das salas de aula em Comunidades de Investigação sem uma

grande pressão social me perece que ou seria demasiadamente demorado, ou apenas superficial e pouco expressivo tal como foi a mudança do ensino seriado para o ensino ciclado citada neste

trabalho.

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