O homem deseja e odeia a verdade. Quer mentir aos outros - quer que o
enganem (prefere a ficção à realidade), mas por outro lado receia o
engano, quer o fundo das coisas, o verdadeiro verdadeiro, etc.
Somente a razão conduz à verdade. Mas só os fanáticos, os
visionários e os iluminados fazem as coisas grandiosas, mudanças,
descobertas. A verdade, de tanto se tornar necessária, conduz à secura, à
dúvida, à inércia - à morte.
É muito natual que os homens odeiem aqueles que dizem ou tentam
dizer a verdade. A verdade é triste (dizia Renan) - mas, com maior
frequência, é horrível, temível, anti-social. Destrói as ilusões, os
afetos. Os homens defendem-se como podem. Isto é, defendem a sua pequena
vida, apenas suportável à força de compromissos, de embustes, de
ficções, etc. Não querem sofrer, não querem ser heróis. Rejeição do
heroísmo-mentira.
Giovanni Papini
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